quarta-feira, 9 de março de 2016

A mãe é que sabe || Bater ou não bater, eis questão?

Para quem tem filhos, sabe o quanto, às vezes, eles gostam de testar os nossos limites, sabe o quanto é difícil manter os níveis da paciência sempre em "full batery". Somos todos seres humanos e, por isso, todos temos os nossos limites.
No que toca a padrões de educação, muita coisa mudou de há uns anos para cá. Antigamente as crianças, se se portassem mal, eram castigadas fisicamente, era ver a bela da lambada, o cinto das calças ou a régua a funcionar. Mas a constituição dos direitos das crianças veio alterar muita coisa, os avanços da psicologia vieram mostrar um lado que até então os adultos desconheciam acerca da conduta e das emoções das crianças.
Hoje em dia é tudo mais permissivo, a maioria dos pais tem outra atitude, já não se bate nos filhinhos, deixa-se fazer praticamente tudo o que querem porque "viva a liberdade", porque eles têm direitos, porque, coitadinhos, eles sentem tudo de uma forma mais intensa. A meu ver, os castigos físicos foram substituídos pela permissividade dos pais, dando lugar a uma inversão de papéis; hoje são os filhos que batem nos pais.
Mas a questão que trago para refletirmos é, deve-se ou não bater numa criança quando esta se porta mal, quando faz algo de errado?
A minha resposta é nim. Vamos esmiuçar isto.
Um pai ou uma mãe não são de ferro, também se fartam dos filhos, também se cansam das birras e dos disparates que eles possam fazer, também perdem a cabeça (vá, mas não tanto como a mãe ou o padrasto do Rodrigo Lapa). E não, não me venham com lamechices do tipo "fartar-se de um filho? Ai caredo, isso não se diz", pois não, ninguém diz, mas deviam porque é verdade, os filhos também são chatos, também irritam, também cansam. Portanto, fingir que as crianças são seres imaculadamente angelicais não é comigo.
Ora, tendo eu um filho de 6 anos, sei bem o que é ficar exausta de tanto ele esticar a corda. A verdade é que, por muito boa educação que se dê aos miúdos, eles não conseguem ser crianças exemplares e bem comportadas 24h por dia, nem os adultos, só que às vezes escolhem os dias errados para se e nos testarem.
Portanto, é legítimo que num estado limite, as mãos voem pelo ar, mesmo que nunca cheguem a tocar no alvo, acreditem, eu sei do que falo.
Eu fui criada na base dos castigos físicos, se fizesse alguma coisa de errado ou questionasse o porquê de alguma coisa me ser negada, a resposta que obtinha era uma bofetada e um "eu é que mando, eu é que sei", e isso gerou-me muita revolta, muitas questões simples do tipo "mas o que é que eu fiz/disse de errado?". E foi isso que guardei dos meus castigos, das minhas repreensões enquanto miúda, para quando tivesse filhos ter a liberdade, e a responsabilidade, de fazer diferente.
Mas não é fácil.
Quando se cresce num determinado ambiente e com determinados padrões, isso torna-se parte da nossa personalidade, na forma como iremos reagir a situações semelhantes, condicionando-nos a dar as mesmas respostas que obtivemos no passado. Portanto, uma criança que seja exposta a repreensões físicas quando alguma coisa corre mal, quando for adulta, será muito provável que responda da mesma forma quando as suas crianças esticarem a corda. Mas isto não é linear como 2 + 2 = 4! Existe a resiliência que pode muito bem quebrar estes padrões. E sobre isto só posso falar por mim.
O facto de eu ter crescido na base da "porrada para ter respeito", não implicou que eu adotasse o mesmo método para com o meu filho. Já ouvi por aí algo como, "naaa, é dar uma palmada bem assente que assim ele/ela aprende a respeitar, vais ver que nunca mais repete". Isto não é mais do que uma burrice pegada! E porquê? Porque o respeito nunca será genuíno e sim uma consequência do medo.
Pensem comigo: uma criança faz um disparate qualquer, o pai ou a mãe passa-se da marmita e dá-lhe uma chapada nas beiças, a criança reage com o choro e sabe que não poderá voltar a repetir a proeza, não porque saiba que é algo errado - na verdade, isso ela nunca irá saber porque ninguém se deu ao trabalho de explicar - mas sim porque fica com o medo de voltar a receber outra chapada ou até, quem sabe, algum gesto pior. E o que é que o medo gera a longo prazo? Revolta. Percebem agora de onde vêm os bullies?
As crianças não são más, como muito se diz por aí, as crianças são pequenas esponjas que absorvem o que vêm e ouvem, e isto é bem mais simples do que possa parecer. Mas sobre isto falarei noutro dia.
Isto tudo para dizer o quê? Que uma palmada nunca fez mal a ninguém, mas essa não é a resposta viável para que as crianças aprendam a distinguir o que é certo do que é errado, e aprendam a ter respeito pelo outro, sem ser pela via do medo daquilo que ele lhe possa fazer. Porque depois isto é uma bola de neve, o medo gera revolta, a revolta gera violência, a violência dá sempre merda, e por aí fora.
Há dias li num texto que já não me lembro bem o seu nome ou quem o escreveu, acho que foi num blog, algo como isto "enquanto puder, guardo a palmada no bolso". E é mesmo isto que tenho feito há 6 anos, guardar a palmada no bolso para quando já não me restar mais opções.
Até lá vou usando as palavras como argumento, mesmo que isso implique ver, de volta e meia, as minhas mãos a voarem sem nunca assentarem no alvo.

Para a semana a mãe volta com mais um devaneio qualquer.





8 comentários:

  1. Esse é um tema que eu não sei o que dizer. Eu sempre fui contra a violência física, os meus pais nunca, nunca mesmo, bateram-me e eu e a minha irmã respeitamos sempre. Hoje ainda não tenho filhos, e não sei como irei reagir...
    Resposta ao teu comentário no meu blog: eu acho que vale a pena comprar a paleta, é bem útil.
    Beijinhos
    www.beatrizcouto.com

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  2. eu sou a favor de bater para educar. não é para espancar a crinaça como é obvio, mas uma palmadinha para corrigir comportamentos não fica mal. Por exemplo, eu tenho um casal amigo que têm um filho com 8 anos que é a criança mais mal comportada que já vi. Se vamos todos tomar café, ele nao consegue estar sentado, nao respeita nada, foge de nós no centro comercial ao ponto de ser chamado à ateção pelos seguranças! e porquê? os pais nunca lhe bateram. põe-no de castigo em casa. fecham-no no quarto com as luzes apagadas e coisas do genero que para mim mais parecem tortura. se lhe dessem um palmada para ele chorar e ficar quietinho com o rabo a arder, iam ver se ele nao se portava melhor. a sensação que tenho é que ele tá mesmo a esticar a corda e a ver até onde os pais aguentam... Um dia fiquei a tomar conta dele e ele tava so a meter as mãos nojentas no ecrã da minha televisão cara. Eu avisei-o umas 5 vezes, e sempre voltava a fazer. dei-lhe uma palmada. sabes o que aconteceu? sentou-se no sofá quieto e calado a ver televisão. deixei de ser a "tia" simpática que é permissiva. A partir de desse dia, passou a portar-se um bocadinho melhor a minha presença, mas mesmo assim era preciso que os pais fossem bem mais autoritários.

    beijinhos mamã =)

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  3. Gostei muito do tema e do texto, não tenho filhos, mas consigo imaginar o quanto é difícil educar.
    Beijos
    BlogCarolNM
    FanPage

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  4. Ola Márcia,
    OS filhos às vezes são chatos sim e irritam sim, não é por serem crianças que são anjos. Eu tenho um de 4 anos e ele sabe bem quando está a fazer mal. Também prefiro guardar as palmadas no bolso mas que há dias que me tira do sério há :).
    Bom texto, gostei muito ;).
    Beijinhos.

    misscokette.blogspot.pt

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  5. Concordo totalmente contigo. Não tenho filhos, mas tenho muitos sobrinhos de quem já tomei conta várias vezes e eles podem mesmo tirar-nos do sério.
    Beijos

    http://nailsbyanas.blogspot.pt/

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  6. Concordo com suas palavras. Olha, eu lembro que quando eu era criança eu apanhei apenas algumas vezes, mas das vezes que apanhei foi porque aprontei coisas graves. Acho que cada um sabe do seu filho e pronto. Ótimo post.
    Beijos

    http://www.pudimengorda.com.br/

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  7. Gostei muito do teu texto Márcia! Ainda não tenho filhos e tenho seguido atentamente as tuas peripécias enquanto mãe e ás vezes dou comigo a questionar-me sobre alguns assuntos! A verdade é que o que tem de belo também tem de medo!
    Mas em relação a este assunto concordo contigo contudo acho que algumas crianças e nalguns casos uma palmada bem dada faz a diferença! óbvio que não à lei do "eu é que sei, eu é mando!" odeio isso!!
    Um beijinho e obrigada por partilhas tão boas!
    elisaumarapariganormal.blogspot.pt

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