sexta-feira, 27 de outubro de 2017

|| Ser a mãe que não tive

Muito se tem falado e discutido por esse mundo afora sobre o desenvolvimento emocional e cognitivo das crianças, eu própria estou muito ligada ao estudo desses aspetos devido ao meu curso. Mas como diz aquela célebre frase cliché "uma coisa é a teoria, a prática são outros 500", porque além de psicóloga eu também sou mãe.
A psicologia ensina-me que não é viável nem sadio pegarmos na nossa experiência pessoal enquanto filhos e projeta-la nos nossos filhos como forma de "curarmos" as nossas mágoas e os nossos traumas. A minha consciência sempre me acautelou para evitar fazê-lo, mas eis que a minha experiência veio-me mostrar onde fica o meio.

Ontem à noite, enquanto ajudava o Gabriel a criar uma história/composição para a escola, eis que de repente o pai interpela-nos e comenta sobre uns rabiscos que o meu filho tinha feito numas folhas do caderno, uns corações com o nome dele e de uma miúda da turma dele. O pai perguntou, em tom de troça, se o filho já me tinha mostrado o que tinha rabiscado nas folhas, ao que o miúdo reagiu com um riso nervoso e disse ao pai "está calado!". O pai, insistindo, pegou no caderno dele para me vir mostrar os tais rabiscos, e o meu filho agarrou nas folhas e começou a amassa-las para me impedir de as ver. E criou-se ali um conflito, o pai a tentar evitar que o miúdo rasgasse as folhas porque tinham trabalhos das aulas, eu a tentar evitar o mesmo e ao mesmo tempo que o meu filho se acalmasse, de repente o miúdo levanta-se a chorar e com uma agressividade que lhe desconheço, e foi trancar-se no quarto dele.
Fiquei chocada. Naquele momento só me passou uma coisa pela cabeça, a de que tinha magoado o meu filho.
Levantei-me e fui ter com ele ao quarto. Tentei abrir a porta mas ele fazia força para mantê-la fechada, e quando forcei abri-la ele desatou aos gritos, super vermelho tal não era a raiva que estava a sentir. Tentei falar-lhe num tom de voz calmo, mas nada adiantava, o meu filho estava completamente descontrolado com a raiva que estava a sentir naquele momento.
Ele acabou por ceder e atirou-se para cima da cama dele a chorar, desesperadamente, e eu continuava a não conseguir chegar até ele. Até que me sentei na cama ao lado dele e abracei-o, esfregando-lhe as costas para ele se acalmar, sendo que as únicas palavras que me saiam da boca eram simplesmente "está tudo bem filho, tem calma".
Depois de ele conseguir acalmar-se e respirar fundo, eu perguntei:

- Podemos conversar? - e ele acenou a cabeça dizendo que não - Mas podes-me só ouvir? - ele acenou que sim.

- Desculpa se te magoei ou chateei. Se tu não queres que eu veja o que rabiscaste nas folhas eu não vejo. Mas só quero que saibas que não há mal nenhum no que tu fizeste, que é normal, eu na tua idade também gostei de um menino da minha turma e estava sempre a desenhar corações e flores e borboletas nas minhas folhas, ainda hoje o faço! A mãe sempre que dizia que não queria cá namoricos ou raparigas, a mãe estava simplesmente a brincar e a meter-se contigo, eu jamais impedirei que tu gostes de alguém, tu és livre filho, tu e o teu irmão. Eu gosto muito de vocês, só quero que vocês estejam bem. Não sintas vergonha ou medo de me contar ou mostrar o que quer que seja, eu estou aqui sempre para ti! Desculpas-me? - acenou que sim e eu abracei-o.

Foi ali, naquele exato momento, que eu curei um pedacinho da mágoa da menina que um dia eu fui. Foi ali, naquele preciso momento, que eu tive à minha frente o poder de escolha: se fazia da mesma forma que a minha mãe um dia me fez ou se fazia diferente.
Eu vi nas lágrimas do meu filho as minhas, a raiva que ele teve a liberdade de expor pra fora era a mesma raiva que eu fui tantas vezes obrigada a engolir com o risco de apanhar se não o fizesse, vi a mesma frustração de não entender o que se sente, a mesma vergonha, o mesmo medo. A diferença é que fui capaz de conter as emoções do meu filho, assumir o meu erro ao ter tentado invadir a privacidade dele movida pela minha curiosidade, ao invés de dizer aquilo que um dia ouvi "ainda mijas nas cuecas, não quero cá galderices", como se uma criança de 8 anos fosse desprovida de qualquer sentimento ou vontade mas que ainda assim fosse capaz de ser uma galdéria...
Há pouco tempo, numa conferência na minha faculdade em que o [enorme senhor!] Marcos Piangers falava sobre ser pai, ele disse que cada vez que abraçava as filhas e elas adormeciam abraçadas a ele, ele sentia que estava a abraçar o menino sem pai que um dia ele foi, que ao dar colo e abraços às filhas também dava colo ao menino carente que ele tinha sido. Ele dizia mesmo que é possível sim curar algumas das nossas mágoas enquanto filhos ao sermos pais e mães diferentes daqueles que tivemos. Na altura não quis acreditar muito nisso, afinal a psicologia ensina-me todos os dias o contrário. Mas a psicologia não explica tudo na vida e nem sempre devemos olhar para as coisas com a medida do 8 e do 80.
A minha mãe magoou-me muito enquanto filha, mas isso não quer dizer que eu tenha que ser igual a ela e seguir-lhe as pisadas. Por eu saber exatamente as dores profundas e permanentes que ela me causou, isso ainda me dá mais obrigação de fazer diferente enquanto mãe e não causar as mesmas dores nos meus filhos.
Há erros na vida que de tanto vermos os outros cometer, podemos escolher não os repetir, e isso dependerá sempre da nossa capacidade de nos lembrarmos de quem fomos um dia, do que nos fizeram e do que sentimos na altura. E só isso basta para fazer de nós melhores mães [e pais].

A maior qualidade de uma mãe [e de um pai] é ter a consciência de que se é imperfeito e que por isso mesmo também erramos, e pedir desculpa aos filhos é assumir perante eles não só essa noção [válida] de humanidade imperfeita mas também ter a coragem de assumir que se ultrapassou um limite que eles também os têm.
Ontem, pedir desculpa ao meu filho mostrou-me não só o quanto sou [humanamente] imperfeita, mas também me deu a certeza de que a coragem de o fazer, fez de mim uma mãe melhor.


quinta-feira, 19 de outubro de 2017

|| Antes eu do que ela

Cada vez que lhe cai uma lágrima do rosto, é menos uma oportunidade tua de ver o brilho dela quando te sorri.
Cada vez que lhe viras as costas e te vais embora sem, pelo menos, tentar amenizar o estrago, é mais um dia que roubas à tua [vossa] felicidade.
Cada vez que lhe atiras os medos à cara, é mais um punhal certeiro que lhe espetas no peito.
Cada vez que lhe roubas a razão em prol da tua teimosia, é mais uma amostra de que o teu ego é mais importante do que ela.
Cada silencio teu, é mais um vazio que lhe causas.
Cada ausência tua nos gestos, é mais um metro que a afastas.
Sim, tens razao, ela não é perfeita.
É a mulher mais insegura com o melhor abraço do mundo.
É a mulher mais refilona e apaixonada que conheceste na vida.
É a mulher mais teimosa que te abre a porta sempre que te arrependes.
É a mulher mais pessimista e resiliente que alguma vês conhecerás.
É a mulher mais incoerente e sincera que poderás ter.
É a mulher mais orgulhosa capaz de largar tudo para estar do teu lado quando mais ninguém estiver.
Eu e tu sabemos que era tudo mais simples quando a tua paciência não falhava, quando os teus limites não eram testados, quando vivias só pra ti sem ter que dar satisfações ou partilhar a tua vida e o teu espaço, as tuas coisas. Era tudo mais simples quando chegavas a casa e executavas a rotina, quando te deitavas na cama e não tinhas que aturar ressonos e teres uma cama só pra ti, quando não tinhas que gerir familia e amigos em prol de uma só criatura.

Bom, há sempre tempo de voltar atrás.
Espero que te lembres de como era viver sem ela.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Viagens || Barcelona - 3ª parte

Olá meus amores!
Tudo bem por aqui?
Eu sei que esta 3ª parte da minha viagem a Barcelona estava difícil de sair mas... voltei à faculdade, e a ansiedade tomou conta de mim, e como se não bastasse, coisas muito difíceis e graves aconteceram nestes últimos dois meses. De facto, 2017 tem sido um ano de muita mudança, de muito desapego, de muita reciclagem, mas irei falar sobre isso com calma mais tarde, quando conseguir, mas por agora vamos falar de coisas boas, coisas que valem mesmo a pena pensar e recordar.

Praia de Badalona:






Ok, eu podia ter tirado mais fotos à praia mas... decidi aproveita-la visto que só tinha mesmo aquele dia. Mas se vocês pesquisarem no google encontram muitas fotos da praia de Badalona. Na minha opinião, a praia de Badalona tem os seus sim's e senãos. O que mais me surpreendeu foi o facto das pessoas se misturarem, na praia haviam nudistas no canto da praia, ao lado de pessoas que estavam vestidas de biquini e calções.
Eu só pensei "se fosse em Portugal isto seria impensável, as pessoas são demasiado púdicas para aceitarem as escolhas do outro", e na verdade, ali, naquela praia, eu vi pura descontração, famílias inteiras tranquilas da vida, independentemente de estarem vestidas ou despidas. 
O mar... bem, a água é super quente, obviamente, mas... estava cheia de ondas, e eu, esquisita como sou com praias, não gostei muito dessa parte mas pronto, não dispensei uns mergulhos. 

À noite acabamos por jantar num restaurante com vista para a praia. Comemos a bela da Paella e como sobremesa é o que se vê. 





Bairro gótico e Catedral:´


















Praça de Espanha:

E para terminar esta viagem magnífica, aproveitei para visitar a praça de Espanha com a fonte luminosa (que infelizmente não consegui vê-la ligada).










Hotel:

Ficámos num hotel bem perto do centro, mais propriamente na Cidade Universitária. Não era um hotel xpto, não tinha qualquer luxo, mas o quarto era confortável, tinha o essencial, era limpo, a cama enorme e super confortável, ar condicionado que nos soube pela vida, sinceramente gostei. Não vos posso falar sobre o pequeno-almoço que tinham porque custava os olhos da cara, mas sem dúvida é um hotel que recomendo a quem queira ficar bem situado para turistar. 
E o melhor de tudo é que fica mesmo ao lado da loja que deixa qualquer mulher que goste de produtos de beleza e maquilhagem maluca: Primor, pois é.




Foi, sem dúvida, a melhor viagem da minha vida. 
Foram só 4 dias, intensos, cansativos, não vi tudo o que eu queria ter visto, mas absorvi cada detalhe, a beleza, a grandeza de cada sítio em que pisei, e sobretudo, criei memórias maravilhosas. Beijei muito, abracei muito, entrelacei a mão com a dele vezes sem conta, sorri muito. E ser feliz é só isto, esteja onde estiver.

Barcelona, um dia eu volto. E se voltarmos juntos, melhor ainda. 

Beijinho para vocês